domingo, 18 de novembro de 2007

Deus nao é maniqueista


No post anterior eu quis chamar atencao sobre alguns aspectos que dizem respeito a experiencia religiosa a serem superados, a saber: a concepcao de um Deus intervencionista e que esta para alem dos limites do mundo, a divisao entre bons e maus (maniqueismo - na linguagem biblica trigo e joio) e a consequente espiritualidade fundada em peticoes e ritos que procuram sensibilizar a Deus para jogar do lado dos bons...


Na verdade o maniqueismo foi superado quase 200 anos antes mesmo que nascesse. A Encarnacao trouxe definitivamente Deus para dentro dos limites do mundo atraves de Jesus Cristo. Ele deixou bem claro que separar os bons dos maus nao compete a nos. Mostrou ainda que a Salvacao esta ao alcance de todos e que para tanto nao é necessario fazer nada. Parece estranho, mas é assim mesmo. Fomos habituados desde pequenos a pensar que para "ir pro ceu" a gente tinha que fazer um monte de coisas. Tipo ser "comportadinho", obediente, nao chegar tarde em casa e nem falar palavrao... Depois crescendo se passava da fase comportamental para a sacramental: entao tinha q fazer a comunhao, a crisma, ir na missa e "ajudar quem precisa"... Tudo isso levava a crer em uma Salvacao por merito e ao mesmo tempo individualista: "salva tua alma" diz uma maxima antiga...


A Salvacao, todavia, é graça, é dom. Foi Deus quem mandou seu Filho pra dizer em modo eloquente e humamente inteligivel como viver. Livremente podemos aceitar ou nao esse dom...
Bem, o discurso ainda poderia se alongar... mas vamos ao finalmente:
Penso que a grande acao pastoral da Igreja seja anunciar o dom da Salvacao em Cristo. Aceitar o dom da Salvacao significa aceitar o abraco acolhente do Pai Misericordioso (Lc 15, 11-32)
Consequentemente uma espiritualidade que supera os dualismos: sagrado - profano, bons-maus, imanente-transcendente. Uma espiritualidade da vida cotidiana que com o olhar penetrante da fé (amor) enxerga em cada gesto, em cada encontro... uma presença misteriosa e iluminadora...

2 comentários:

IGC.Brasil disse...

Wow, Ir. Moacir! Muito bom o texto-continuação!! Quem sou eu para dizer tal coisa, mas disse...
Bom, é verdade: tais dualismos (mente-corpo, bom-mal, gremio-inter etc.) são inconcebíveis no pensamento 'pós-moderno' (ou contemporâneo). Aquela herança platônica, dualista, burra - acho, na verdade, que tudo o que é derivado de Platão é burro! - deve ser (imperativo moral) sepultado. E com ele irá, certamente, o maniqueísmo, principalmente o que dá vazão ao espírito, em detrimento do corporal.
No entanto (fiquei pensando eu, após ler o que escreveste e o que escrevi), se dissermos que devemos sepultar o maniqueísmo, pois ele não faz bem para o Humano, daí estaremos firmando (ainda que não afirmando) novamente a existência desta filosofia. Fiz-me entender?
Explico: se o maniqueísmo deva ser posto de lado, por ser "ruim para o ser humano", no fim das contas, estaremos dizendo que há bom, e que há ruim. Ou bem e mal, substantivando-os.
Bom, sei lá. Sei que gostei de teus textos. Haverá continuação?

isaque gomes correa

Moa disse...

Meu prezado Isaque.
Sobre o que tu escreveu digo duas coisas.
Em primeiro lugar o problema que te colocas é antes de mais nada de linguagem. A linguagem exige uma logicidade no uso das palavras para podermos afirmar as coisas que queremos... E toda vez que afirmamos uma coisa deixamos de afirmar outra e assim vai. Isso porque as palavras ao mesmo tempo que "libertam" sao tambem uma gaiola e é dificil sair dela... Resumindo: a questao nao é tanto destruir o maniqueismo por uma lado e reafirmar-lo por outro. A questao é que a Salvacao do cristao nao passa por Maniqueu. Alias eu penso que a questao da linguagem religiosa eh uma das questoes fulcrais para que o cristianismo possa ainda ser plausivel ao homem moderno secularizado. Um dia escreverei sobre isso...

Depois eu penso que: o bem existe, ponto. O mal existe, ponto. Mas jamais existem como essencias separadas. Essa eh a explicacao porque Jesus diz que arrancado o joio se arranca tbem o trigo...

Um abraco