quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Das coisas que aprendi...

Das coisas que aprendi…

Essa semana fecha um ciclo de dois anos e meio aqui na Italia. Durante todo esse tempo frequentei a Universidade Pontificia Salesiana para obter o titulo de Mestrado em Educacao com especializacao em Pastoral Juvenil... Morando em uma das cidades mais cosmopolitas do mundo, como Roma, e havendo a possibilidade de conhecer outros paises é obvio que as aprendizagens ultrapassam a academia... A seguir alguns fragmentos desordenados de algumas coisas para mim muito importantes...

A primeira coisa que aprendi é que aqui não existe Mestrado como nos entendemos no Brasil. Existe a “Licenza” que corresponde, mais ou menos, ao Mestrado no Brasil...

Aprendi que Roma é uma cidade lindissima, (bem como toda a Italia) e que se torna ainda mais bela na medida em que conhece melhor a historia e na medida que o nosso olhar vai se convertendo...

Aprendi, com a ajuda de Tomas Luckmann, que a Europa é secularizada mas o europeus não. Quer dizer, a religiao é cada vez mais invisivel mas a dimensao religiosa do homem continua viva.

Aprendi que a Europa esta mundando de rosto, um rosto ainda não delineado... e que a causa pode de alguma maneira ser explicada ao egoismo generacional aliado ao grande numero de imigrantes asiaticos, africanos e latino-americanos...

Aprendi que são muitos os caminhos que levam ao Vaticano. E da onde eu morava qualquer um que eu escolhesse não demorava mais de 17min de caminhada... Mas são cada vez mais tortuosos e estreitos os caminhos do Vaticano até mim...

Em contato com pessoas de todos os continentes aprendi que os meus absolutos podem ser relativos para o outro. E que a única forma de realmente encontrar o outro (diferente de mim) é relativizando os meus absolutos (coloca-los entre parenteses). Por outro lado a única forma de viver serenamente nesse mundo (pos-moderno) é tendo valores que estao profundamente radicados em uma comunidade, e que é preciso crer que as instituicoes podem ajudar a mante-los.

Aprendi que todo o nosso saber (conhecimento) é interpretaçao. E que portanto não conhecemos as coisas como elas são, mas já sempre interpretadas e codificadas em uma linguagem carregada de significados profundamente arraigados em um contexto (tempo, cultura, simbolos, valores...).

Aprendi que a religiao não é um problema de Deus. É um fato humano e que a modernidade trouxe a religiao para dentro dos limites do mundo. Isso significa muita coisa, mas poderia ser resumido no seguinte: a religiao somente tera credibilidade e plausibilidade a medida que responder aos problemas do homem (suas angustias, suas dores, suas miserias e suas buscas)...

Aprendi que aquilo que os estudiosos chamam de “mal estar religioso da nossa civilizaçao” tem suas origens no Iluminismo e que somente dois seculos após, com o Vaticano II, surge uma resposta aceitavel. Pena que grande parte da Igreja vive como se não existisse esse Concilio... Por mal estar religioso entende-se o problema de indentidade do homem contemporaneo: se escolhe ser cristao entra em conflito com a modernidade, se opta por ser moderno conflitua com o cristianismo...

Aprendi que Deus é a maneira infinita de ser homem e que o homem é sempre um modo finito de ser Deus. A única forma de se aproximar de Deus é crescer em humanidade.
Aprendi que não se trata tanto de educar para acreditar em Deus mas educar para perceber quanto Deus cre em cada um de nos...

Aprendi que é preciso crer profundamente na juventude especialmente nos contextos de pobreza bem como nos lugares onde os jovens tendem a diminuir numericamente...

Aprendi que tudo o que eu aprendi somente tera valor se eu continuar aprendendo...

Aprendi ainda muitas outras coisas mas as que escrevi aqui me dao sufiencietes razoes par crer e esperar...

3 comentários:

Aloir Marcos Dietz disse...

Salve Moa

Quanta aprendizagem....Muito inspiradas esses concluimentos!!! Posso dar testemunho de que é fato... pois vi a apresentação da tese e mostrou firmesa, conhecimento e estudo.
Esteio vai ser o lugar para partilhar todos esses conhecimentos.
Já te vi nas fotos do Colégio,.. bah...
Um grande abraço e sucesso
Aloir,

CIE.HUM disse...

Extraordinário pela densidade existencial e pela plasticidade. Sugiro publicação impressa, para que eu possa citar nos meus escritos.
César

Ramon Lima disse...

Olá, Moa

Eu sou aquela figura que teve a honra de tocar "pais e filhos" para pessoas ilustres no IX Curso Provincial La Salle, lembra? Pois bem, estou relembrando aquele momento maravilhoso mediante seu blog. É demais!
Ramon Lima